domingo, 8 de janeiro de 2012

O PARTO E OS DIAS MAIS DIFÍCEIS

                 Sempre tive muito medo de qualquer cirurgia. Desisti de uma cirurgia plástica apenas pelas possíveis dores que ela me causaria. Parto, então? Eu queria mais que os médicos “criassem” um método de fazer o parto apenas com o estalar dos dedos! Zapt, bebê pra fora!
                No parto do Luiz Otávio não deu muito tempo de pensar nas dores, pois eu passei muito mal com a minha companheira, a azia. Mas no parto das meninas foi diferente.
                O desespero pela dor da anestesia era imenso! Só de pensar que seria “cortada”, já me doía a alma! Uma voz soou naquela sala e seu tom me acalmou; era ele... meu “anjo”. Eu sabia que tudo daria certo.
                Maria Clara nasceu primeiro, com 2340kg e 47 cm. Como na gestação mal sentia ela se mexer, porque estava bem encaixada, achei que seu nome seria perfeito, por Clara ser um nome tranqüilo. Seu choro me encantou logo nos primeiros segundos de vida! Eu sabia que seria apenas o primeiro, de muitos! Estava ansiosa demais por isso.
                Alguns minutos depois, Maria Luiza com 1980kg e 46cm. Um silêncio total! Como Maria Luiza se virou no momento do parto, engoliu um pouco de líquido. Apenas algum tempinho depois um outro som novamente acalmava meu coração: seu choro!
                Como elas, através do USG, já tinham atingido o peso de 2kg, nunca pensei na possibilidade de precisarem da UTI, mas, se precisassem, achava que não passariam mais de uma noite. Apenas depois de algum tempo fui entender que o peso, sim, era muito importante, mas o principal era que os pulmões dessem conta do recado.
                No primeiro momento, elas foram pro berçário intermediário. Logo na primeira visita me preocupei. Elas respiravam com tanta intensidade, com tanto esforço, que me desesperei. À noite veio a noticia que mais temia: elas iam pra UTI e seriam entubadas.
                Quando a gente pensa em UTI, imagina as pessoas em fase terminal, que precisam de aparelhos pra sobreviver e em todas as tristezas que cercam essas siglas.
                Com o passar do tempo, começamos a entender que era normal em caso de gêmeos, também pela idade gestacional, pois os pulmões não estavam prontos.
                Mas visitar nossas meninas na UTI, mesmo estando bem  cuidadas, amparadas, não foi nada fácil. Meu coração, novamente, dava sinais da sua força! Nos contentarmos apenas em tocá-las, dentro de uma incubadora, foi terrível!! Tantos fios, tantos aparelhos nos dois corpinhos frágeis, pequenos, sedados... Por mais que os médicos explicassem que eram procedimentos normais no caso delas, ver um filho nessas condições é algo completamente doloroso! Mais doloroso ainda foi eu ter alta e sair da maternidade de braços vazios, com a mala cheia, trocas sem usar e ouvir dos médicos que nada poderia ser feito, que o único remédio seria o tempo pra que as meninas conseguissem respirar sozinhas. Mas quanto tempo? Um dia, dois dias, uma semana? Não tínhamos uma previsão. Como uma mãe pode entrar na maternidade pra ter seu bebê e deixá-lo por lá? Doeu.. Até hoje não consigo achar um momento tão difícil que se compare a esse! Preciso falar novamente da força do meu coração?
                Nossa maior preocupação era com a Maria Luiza, por ter nascido menor e pelo susto que nos deu durante o parto. Depois de um raio X, descobriram que a Maria Clara tinha um arzinho que havia se formado dentro do peito (não me peçam termos médicos rs)  e que precisava ser drenado. Morria de medo de uma infecção! Passamos a nos preocupar ainda mais com a Maria Clara.
                A cada visita, eu saía destruída! Queria entender a gravidade das meninas mas os médicos apenas nos diziam que estavam melhorando. Sabe aquele negocio de 0 a 10, qual a gravidade? Corríamos risco de perder alguma? Eram tantos medos, tantas preocupações, tantas perguntas mas nenhuma resposta concreta! Hoje entendemos a cautela dos médicos em não nos dar tempo, até mesmo porque o tempo dependia exclusivamente de cada bebê!
                Já no berçário intermediário, meu contato com as meninas aumentou. Ainda não podia amamenta-las, mas podia acalenta-las! Pegar aqueles corpinhos frágeis, pequenos e me contentar com 30 minutos a cada visita era uma vitória!
                Enfim, Maria Luiza se recuperou bem, aceitou o peito com facilidade. Maria Clara precisou de mais dois dias, mas também estava pronta pra ir pra casa.
                Enquanto  saíamos do hospital sentia que uma forte luz estava ao nosso redor!  Acho que era nossa felicidade que transbordava pelos poros, e Deus, que nos abençoava! Era um alívio, uma vontade de correr pra casa, de gritar pra todo mundo que estávamos saindo dali, que se comparava ao nascimento das nossas princesas!
                As Marias honravam seus nomes!
                Foram 16 dias de agonia, de intensa oração, de promessas, de noites em claro, de preocupações, de apoio das pessoas queridas, de fortalecimento nosso e delas.
                Que venham as noites em claro com elas em casa, com as trocas de fraldas, as mamadas, os choros, mas sem o tormento dos últimos dias!
                Apenas uma nota: como ainda são recém-nascidas, e pelo fato de serem prematuras, os médicos nos pediram cautela para as visitas, pra que elas não peguem algum resfriado ou desenvolvam alguma alergia. Acreditamos que em 15 dias, mais ou menos, elas estejam mais fortes e toda nossa vida volte ao normal. Não vemos  a hora de recebê-los em casa e apresentarmos nossas Marias. Só mais um pouquinho de paciência, combinado?

Nenhum comentário:

Postar um comentário